A Polícia Civil revelou que o delegado titular de Peixoto de Azevedo, Geordan Fontenelle, preso na quarta-feira (17) por liderar um esquema de corrupção na delegacia do município, recebia R$ 2 mil mensais da Coogavepe (Cooperativa dos Garimpeiros de Peixoto de Azevedo).
Em um aúdio gravado com autorização da Justiça, o delegado ironiza a situação em conversa com um investigador: “Dá onde você acha que sai esse café?” (veja trecho do diálogo abaixo).
Demonstram preocupação com relação aos efeitos da Operação Hermes II, vez que Geordan confessa receber repasse da Cooperativa no valor de R$ 2.000,00
A informação consta na decisão da juíza Paula Tathiane Ribeiro, da 2ª Vara Criminal de Peixoto de Azevedo, que embasou a Operação Diaphthora e autorizou a prisão do delegado e do investigador Marcos Paulo Angeli. Os dois são acusados de montar um “gabinete do crime” na delegacia de Peixoto.
Segundo a investigação, o delegado ainda teria ficado preocupado com a possibilidade de o valor parar de ser repassado depois da deflagração da Operação Hermes II, da Polícia Federal, que investigou o comércio e uso ilegal de mercúrio em garimpos nas áreas que compõem a Amazônia.
Demonstram preocupação com relação aos efeitos da Operação Hermes II, deflagrada na cidade de Peixoto de Azevedo, vez que Geordan confessa receber repasse da Cooperativa no valor de R$ 2.000,00 […] e que, em razão da operação mencionada, provavelmente haveria o fim do repasse do valor por parte da Cooperativa Coogavepe após a intervenção da Polícia Federal e do Ibama, pois houve bloqueio de bens e valores decorrentes da operação”, consta na decisão.
A situação foi discutida entre Geordan e Marcos Paulo. Na ocasião, o delegado designou a tarefa de cobrar a quantia para o investigador. Segundo a conversa, quem faria o repasse seria o advogado Gefferson Cavalcanti Paixão.
Confira trecho da conversa interceptada:
IPC Marcos: Eu falei, agora lascou, porque tem um monte de garimpeiro que depende disso aí também, garimpeiro assim é… os peões tudo.
DPC Geordan: Então a Apae recebe quinze mil, e a gente dois, a delegacia.
IPC Marcos: Aí atingiu até nós, atingiu até nós, tá vendo.
DPC Geordan: Recebe dois mil da Cooperativa.
DPC Geordan: Dá onde você acha que sai esse café (ininteligível)?
IPC Marcos: Uai.
DPC Geordan: Ou é tudo de graça? (risos)
DPC Geordan: Deixa (ininteligível) Eu vou… (ininteligível) ele quieta, porque tá ocupado (ininteligível), porque a operação é da Polícia Federal lá de Campinas, São Paulo, aí pá irmão. Cooperativa em cima dele e pá e tudo o mais, mas, aí amanhã ou depois você passa lá no escritório dele. ‘Oh, Gefferson, doutor falou que você ia deixar um cafézinho, uma “diarinha” (ininteligível) do rapaz dele.
IPC Marcos: Aham, com certeza. (ininteligível)
DPC Geordan: Daí só passar lá e pegar.
IPC Marcos: Nãooo, beleza…
DPC Geordan: É isso que tô falando, gentileza gera gentileza. (risos)
Operação Diaphthora
Segundo a investigação, os policiais civis teriam formado uma quadrilha que oferecia “serviços” ao advogado Gefferson Cavalcanti Paixão, e garimpeiros da região de Peixoto de Azevedo. Aos servidores, foram imputados os crimes de corrupção passiva, associação criminosa e advocacia administrativa.
A Policial Civil recebeu denúncias pelo Núcleo de Inteligência da Corregedoria Geral, revelando situações como solicitação de vantagens indevidas, advocacia administrativa e ainda o assessoramento de segurança privada pela autoridade policial.
Conforme o inquérito, o delegado e o investigador exigiam pagamento de vantagens indevidas para liberação de bens apreendidos, de “diárias” para hospedagem de presos no alojamento da delegacia e, ainda, pagamentos mensais sob a condição de decidir sobre procedimentos criminais em trâmite na unidade policial.