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A guerra econômica

por Da Redacao
Publicado: Última Atualização em

Vivaldo Lopes

A Rússia de Vladimir Putin está perdendo de goleada a guerra econômica que todas as nações democráticas decretaram contra aquele país após a invasão à Ucrânia. A guerra física e sangrenta pode até ser “vencida”, mas será uma vitória de Pirro, diante da estratosférica e retumbante derrota econômica e de imagem.

Aparentemente Putin calculou mal a capacidade de resistência do povo ucraniano e a reação dos países da Europa ocidental, da União Européia e dos Estados Unidos. Acabou conseguindo feito inédito: unir todas as nações contra si e, de quebra, ainda recuperou a liderança dos Estados Unidos no cenário econômico e político global.

A rapidez e dimensão das sanções econômicas são inéditas para um país das dimensões políticas e econômicas da Rússia. E produzem efeitos atômicos sobre a economia russa, suas empresas e seus negócios.  Nunca um país foi alvo de pacote de retaliações tão amplo e tão intenso por parte de tantos governos, mercados, empresas e sociedade civil ao mesmo tempo.  O estrangulamento causado até aqui é tão forte que torna até mesmo difícil fazer um balanço, ainda que resumido. As sanções econômicas desligaram a Rússia do sistema financeiro mundial e asfixiam a economia russa, impossibilitando seus bancos, empresas, governo, banco central de fazerem qualquer tipo de transação financeira.

A retirada da Rússia do SWIFT, sistema de transações financeiras internacionais, congelamento de ativos de empresas, bancos, bilionários russos, membros do governo, incluindo o próprio Putin, impedem uma imensa variedade de transações (comércio, crédito, compensações, dívidas). Diante disso, o maior banco russo, o Sberbank, anunciou, nesta quarta feira (2), a liquidação de todas as suas operações na Europa. Na Áustria, a autoridade monetária decretou a falência da filial do banco naquele país. A Nord Stream 2, empresa controlada pela Gazprom, a maior empresa russa do setor de energia, e que investiu 11 bilhões de dólares para a construção do supergasoduto que liga a Rússia à Alemanha, anunciou também na terça feira (01) a sua falência. As reservas internacionais do país foram congeladas no exterior, retirando a possiblidade do país utilizar a maior parte do colchão financeiro que, aparentemente, guardou para enfrentar a guerra. O banco central russo anunciou, na terça feira (01) que não pagará juros de uma emissão de dívida, sugerindo um primeiro passo para um calote da dívida externa. A União Europeia, Estados Unidos e vários outros países fecharam seus espaços aéreos e portos para os aviões e navios russos. Centenas das maiores empresas nos mais diversos segmentos anunciaram suspensão de operações, negócios, comércio e investimentos na Rússia. A bolsa de valores de Moscou está fechada desde segunda feira e o rublo, a moeda russa, despencou. O banco central anunciou o aumento de juros de 9,5% para 20% para tentar segurar a moeda e conter a inflação. Mais empresas russas vão quebrar e logo vão faltar produtos básicos nos supermercados.

As sanções econômicas objetivam, basicamente: a) o mais imediato é forçar o governo russo a recuar da invasão e ocupação da Ucrânia; b) punir o país pelo seu comportamento bélico; e c) dissuadir, no futuro, esse tipo de violação ao direito internacional, tanto pela Rússia como qualquer outro país. Parece improvável que Putin recue da empreitada bélica no estágio em que se encontra. As sanções econômicas, ao contrário, podem até acelerar as operações militares para completar a ocupação. Mas espera-se, por outro lado, que acelerem as negociações diplomáticas para finalização do conflito.

Discute-se, nesse cenário, por quanto tempo a Rússia resistirá. Difícil vislumbrar reposta categórica neste momento, mas o estrangulamento que as reações ocidentais causam e continuarão causando à economia russa é imensamente maior que o Kremlin jamais imaginou. Mesmo contando com apoio da China, o país sairá dessa aventura bélica mais empobrecido, com a economia em frangalhos e, certamente, vai demorar muito tempo para se recompor. Mas os efeitos serão irradiados para toda a economia mundial, no momento que dava os primeiros passos para recuperação do crescimento econômico após a recessão causada pela pandemia da covid 19. Como disse San Tzu em seus ensinamentos de guerra: “o general deve fazer muitos cálculos no templo antes de iniciar uma batalha”.

Vivaldo Lopes, economista formado pela UFMT, onde lecionou na Faculdade de Economia.  É pós-graduado em  MBA- Gestão Financeira Empresarial pela FIA/USP  e escreve exclusivamente neste espaço à quintas-feiras. E-mail: [email protected]

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