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A endometriose é uma doença decorrente dos implantes das células endometrióticas em locais fora da cavidade do útero. A teoria mais aceita da doença é a do refluxo das células através das trompas no período menstrual que ocorre fisiologicamente, e então, algumas destas células se implantariam.
Diversos estudos sinalizam a existência de uma relação entre endometriose e imunidade. Apesar das evidências, no entanto, ainda não há comprovação que nos permite cravar que essa é uma condição autoimune.
Um estudo publicado na revista científica Scientific Reports mostrou que as pessoas com endometriose têm alterada a função das células imunitárias, essenciais no combate a vírus e tumores. A pesquisa também descobriu que pacientes com essa condição apresentaram níveis elevados de inflamação – especificamente, níveis mais altos de citocinas, proteínas especiais que dizem às células o que fazer quando o corpo encontra um patógeno nocivo, como um vírus ou uma bactéria.
O processo de inflamação é uma característica fundamental de como a defesa do corpo funciona. Na maioria das vezes, inflamações são processos de curto prazo. Mas, às vezes, o sistema imunológico se confunde e o corpo continua a enviar células inflamatórias e citocinas mesmo quando não existe ameaça.
Justamente por se tratar de uma doença inflamatória é que as pesquisas trazem a hipótese de relação entre a endometriose e o sistema imunológico.
A inflamação também é uma característica do ciclo menstrual, que é composto por duas fases: a folicular, que vai do primeiro dia da menstruação até a ovulação, e a lútea, da ovulação até a menstruação. A maior parte da inflamação no período ocorre no útero, mas pode se desenvolver fora dele. É daí que vem a relação de estudos que revelam alterações no sistema imunitário de pessoas com endometriose.
O revestimento uterino em pacientes com a patologia também produz moléculas em excesso chamadas quimiocinas, que atraem outras células imunológicas, piorando a inflamação. A disfunção do sistema de defesa pode explicar por que existe uma suspeita de associação entre pessoas com endometriose e distúrbios autoimunes, como lúpus, artrite reumatóide e doença inflamatória intestinal.
Níveis elevados de inflamação significam, ainda, que mulheres com endometriose podem ter maior probabilidade de apresentar sintomas piores durante as infecções. Embora atualmente não se saiba com que precisão o sistema imunológico está relacionado à endometriose, trabalhar para entender melhor essa relação pode ser fundamental para ajudar a desenvolver melhores tratamentos.
De todo modo, a atuação da comunidade científica é essencial para que consigamos desvendar a endometriose, e dessa maneira, avançar na qualidade do tratamento oferecido a todas as pacientes.
Dra. Giovana Fortunato é ginecologista e obstetra, docente do Departamento de Ginecologia e Obstetrícia do HUJM e especialista em endometriose e infertilidade no Instituto Eladium, em Cuiabá (MT).