Com chuvas regulares, as áreas atingidas pelo fogo no Pantanal mato-grossense se recuperam, assim como os animais atingidos. Contudo, organizações apontam omissão do Estado e um preparo muito lento para a próxima seca, que tende a ser novamente severa.
Em meados de novembro, o Estado convocou uma audiência pública na Assembleia de Mato Grosso (ALMT) para debater a situação e propor medidas preventivas e de combate às queimadas. O encontro foi proposto pelo deputado Lúdio Cabral (PT) e reuniu representantes da Secretaria de Meio Ambiente (Sema), Corpo de Bombeiros e Organizações não governamentais (ONG’s) que atuam na região. Na época, medidas foram tomadas, mas as chamas só foram definitivamente contidas com o início da chuva.
Ao GD, a médica veterinária Carlas Sássi, que representou o Grupo de Resgate de Animais em Desastre (Grad) na reunião, disse que ainda é difícil mensurar a área atingida, pois grande região foi devastada.
“É difícil mensurar os estragos, porque algumas áreas queimadas não foram visitadas, foram simplesmente devastadas”, conta.
A veterinária chama atenção para a destruição não apenas com a morte dos animais e danos à vegetação, mas que o impacto foi sentido em toda a fauna, flora e recursos hídricos da região. Fatores que afetam diretamente a recuperação do local.
Mesmo com o período chuvoso o bioma ainda corre risco. O Pantanal é conhecido amplamente por ser a maior planície alagável do mundo e vem tendo cada vez mais períodos de secas intensas e chuvas que não são o suficiente para que a cheia ocorra normalmente.
“A chuva na região tem acontecido, mas não de forma suficiente para que a cheia seja adequada. Estamos na expectativa que a chuva das próximas semanas sejam em grande volume para a cheia característica que o Pantanal”, apontou.
A coordenadora do Grad afirma que os apontamentos feitos na época crítica e as medidas requisitadas ao poder público ainda não foram atendidas.
“Na última reunião nós colocamos alguns pontos falhos e alguns documentos foram enviados, porém, até o momento não tivemos respostas”, declarou.
Em conversa com o GD, o veterinário Jorge Salomão, da Ampara Silvestre, uma das organizações que atua na região desde os incêndios de 2020, falou sobre como foi o suporte dado por eles nesses novos incêndios.
“Nós recebíamos os animais trazidos para a base, aí dávamos continuidade no tratamento, mas esse ano o número de animais queimados foi menor. Porém, houve um número muito grande de animais carbonizados in loco”, contou relatou o profissional.
Ampara inaugurou sua base em outubro de 2023, a tempo de receber os animais e dar suporte na região. “Os animais sofriam muito, chegamos a pegar duas horas de barco mais 7 horas de carro até Cuiabá com esses animais feridos para que tivessem onde serem tratados”, lembra.
Jorge destacou que a base cumpre um papel em que o Estado falha.
“A necessidade foi algo que enxergamos pelo déficit do Estado, por não ter centros de tratamentos que pudessem receber esses animais. Hoje somos cadastrados junto a Secretaria de Meio Ambiente como área de soltura”, contou
Em relação ao número de animais atendidos pela ONG, Salomão pontua que muitos animais conseguiram fugir do fogo.
“O fogo foi de forma mais progressiva, diferente de 2020, quando o fogo vinha de todos os lados. Então, grande parte dos animais conseguiu se deslocar, com exceção de répteis e anfíbios”, informou.
A respeito de medidas que o Estado deveria tomar em relação à prevenção de incêndio, o veterinário aponta alguns erros de manejo.
“Colocação de brigada permanente, treinamentos e aumento de efetivo. É colocar equipe treinada. Se no ano passado o fogo tivesse sido combatido no início, não tomaria a proporção que tomou, porque houve omissão da parte do Estado por muito tempo”, disse.
Além do Grad e da Ampara Silvestre, outra organização que vem atuando na região é a SOS Pantanal. Gustavo Figueroa, diretor de comunicação da instituição, disse que desde a extinção da queimada, nada mais foi feito.
“Houve as audiências do Ministério Público após incêndios, em que denunciamos a omissão do Estado. Esse é um processo lento, mas a gente não viu ações efetivas do governo de Mato Grosso”, frisou.
O GD entrou em contato com a Secretaria de Meio Ambiente (Sema), que se posicionou por meio de nota que você confere na íntegra a seguir.
Para 2024, o Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento e Incêndios Florestais (PPCDIF) está em fase de consolidação e, inclusive, conta com ações integradas entre os Governos de MT e MS para combater incêndios florestais no Pantanal, que compreende o território dos dois estados. Saiba mais aqui:
Desde 2019, o Governo de Mato Grosso já investiu mais de R$ 240 milhões em ações de prevenção e combate aos incêndios florestais e desmatamento ilegal. Exclusivamente no Corpo de Bombeiros Militar (CBM) foram investidos R$ 105 milhões para a entrega de batalhões, viaturas, novos uniformes e equipamentos.
No município de Poconé, porta de entrada do Pantanal de Mato Grosso, o Governo construiu um pelotão estratégico do CBM para o combate aos incêndios no bioma. Com investimento de R$ 2,6 milhões, a unidade foi entregue em 2021 pelo Governo do Estado.
Também em 2021, o Governo entregou um novo pelotão independente do CBM, em Santo Antônio do Leverger, em parceria com a Prefeitura e uma empresa privada. A unidade foi instalada para atender incêndios florestais na região, cobrindo Santo Antônio, Barão de Melgaço e os distritos de Mimoso e São Pedro de Joselândia.
Em 2022, em Cáceres, o Governo garantiu a entrega de um caminhão auto-tanque florestal, com capacidade de 5 mil litros, com investimento de R$ 638,9 mil.
Outra importante medida realizada no ano de 2022 foi a inauguração da nova sede do Batalhão de Emergências Ambientais (BEA), localizada em Cuiabá. O novo quartel foi estruturado para atuação dos bombeiros no trabalho de prevenção e combate aos incêndios florestais no Estado. O investimento na sede foi de R$ 1 milhão.