Home Cidades Voluntária há 12 anos, auditora-fiscal já ajudou a inserir mais de 600 estrangeiros no mercado de trabalho em MT

Voluntária há 12 anos, auditora-fiscal já ajudou a inserir mais de 600 estrangeiros no mercado de trabalho em MT

por Sandra Carvalho

Marilete Girardi trabalha há 12 anos como voluntária no Centro de Pastoral para Migrante, entidade que acolhe migrantes brasileiros, estrangeiros, indígenas e egressos do trabalho escravo

A Auditora-Fiscal do Trabalho Marilete Mulinari Girardi dedicou 32 anos de sua vida à carreira e, mesmo aposentada, segue prestando serviço no Centro de Pastoral para Migrante, em Cuiabá (MT), há 12 anos como voluntária. Durante todo o período, Marilete, que foi presidente da delegacia do Sindicato Nacional dos Auditores-Fiscais do Trabalho (Sinait/MT) por dois mandatos, encaminhou cerca de 600 estrangeiros para o mercado de trabalho. A entidade acolhe migrantes brasileiros e estrangeiros, indígenas e egressos do trabalho escravo.

“Fui nomeada no dia 13 de março de 1987 e atuei até 29 de julho de 2019, quando eu me aposentei. Foram trinta e dois anos dedicados com muito amor a esse trabalho que garante ao trabalhador brasileiro todos os seus direitos”.

Marilete tem uma história longa como voluntária no Centro Pastoral para Migrante, porém com a chegada dos haitianos a partir de 2011 a 2012, que vinham para trabalhar nas obras da Copa do Mundo 2014, a demanda desses trabalhadores cresceu muito grande por não terem conhecimento da legislação trabalhista brasileira.

“Então foi firmado um termo de cooperação entre a Superintendência Regional do Trabalho e o Centro Pastoral Para Migrante para que por duas vezes por semana Marilete estivesse na entidade fazendo um plantão de orientação trabalhista e ajudando no encaminhamento desses trabalhadores para o mercado, orientando, esclarecendo tudo o que eles precisavam saber, tendo em vista que tinham uma dificuldade muito grande pra entender a língua”.

Em 2018 começou um novo ciclo com a chegada dos venezuelanos, uma nova etapa de migração que também vem aumentando a busca por vaga de emprego e dignidade para as suas famílias.

“Em seguida, 2019, veio a aposentadoria e a partir daí eu passei a participar como voluntária na Pastoral praticamente todos os dias. Hoje eu colaboro em várias atividades, principalmente na orientação trabalhista individual e coletiva com palestras sobre direitos e deveres os trabalhadores, lembrando sempre que os direitos deles são iguais a de todos os trabalhadores brasileiros”, detalha a AFT, observando que também contribui, como voluntária, em outras áreas da Pastoral que não sejam relativas à sua carreira.

Marilete acredita que já tenha ajudado a inserir mais de 600 imigrantes no mercado de trabalho. Ela aponta com grandes desafios a compreensão da língua portuguesa, da cultura e o entendimento de como são as atividades laborais aqui no Brasil.

Outra questão apontada pela AFT é que o Centro Pastoral para Migrante não tem espaço para o acolhimento de todos. A entidade é mantida pela Congregação Escalabriana  e recebe ajuda da sociedade.

“Também faltam políticas públicas para atender especificamente a essa população com vagas para trabalhadores estrangeiros qualificados. Muitos já chegam com o nível superior e aqui dificilmente eles encontram um trabalho na área deles e se torna muito difícil para que possam se adaptar em outras atividades e assim viverem com dignidade e conseguirem sustentar suas famílias”.

A carreira

“A Auditoria-Fiscal é minha paixão e entendo a carreira como de suma importância para a vida dos trabalhadores e da sociedade em geral, não só levando a legalidade nos locais de trabalho, mas principalmente dando a dignidade aos trabalhadores”, contextualiza Marilete

A fiscalização, explica a AFT, atua em todas as áreas ligadas ao mundo do trabalho, como na fiscalização do FGTS, colaborando com o desenvolvimento e melhorias sociais das comunidades, a exemplo da possibilidade de financiamento de casas próprias, e com o registro formal garante inclusive o recolhimento da previdência social.

“Assim trabalhamos todas as áreas pra aplicar a legislação trabalhista, segurança do trabalho, trabalho infantil, aprendizagem, contribuímos pra que realmente esses trabalhadores tenham uma vida tranquila e eu tenho muito, muito orgulho dessa profissão que consegue garantir a melhoria de vida, melhoria da dignidade dos trabalhadores deste país”, completa.

Marilete trabalhou por oito anos na fiscalização de empresas em todo o estado de Mato Grosso. Após esse período assumiu inicialmente a chefia do setor de Relações do Trabalho, onde são feitas as negociações individuais e coletivas com o sindicato das categorias. Foi  nomeada como chefe do setor de Fiscalização do Trabalho e posteriormente assumiu por um longo período a então Delegacia Regional do Trabalho e posteriormente por duas vezes como Superintendente Regional do Trabalho de Mato Grosso.

Dia Nacional

 Dia 28 de janeiro é celebrado o Dia Nacional de Combate ao Trabalho Escravo e  Dia Nacional do Auditor-Fiscal do Trabalho. A data remete ao crime bárbaro que vitimou quatro servidores do Ministério do Trabalho em 2004, sendo três AFTs A Chacina de Unaí indignou e comoveu o país. Mas continua impune. O grupo foi assassinado quando combatia o trabalho escravo em Goiás.  Morreram os AFTs Nelson José da Silva, Eratóstenes de Almeida Gonçalves e João Batista Soares Lage e o motorista Ailton Pereira de Oliveira. Todas as vítimas foram executadas com tiros na cabeça.

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