Por Dra. Giovana Fortunato
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), a adolescência é a idade compreendida entre os 10 e 19 anos. A endometriose é uma doença caracterizada pela presença de tecido semelhante ao endométrio (o revestimento interno do útero) fora do útero.
Um dos sintomas que caracteriza a endometriose é a cólica acentuada, lembrando que a dor menstrual (dismenorréia) se manifesta em 60% a 90% das meninas nesta etapa da vida, e que é considerada normal dentro de certos limites. Cólicas muito intensas, no entanto, devem ser investigadas por um especialista. A maioria das adolescentes com endometriose ainda não iniciou sua vida sexual, sendo assim, não manifestam outros sintomas que jovens adultas apresentam, como dor durante o contato íntimo ou dificuldade para engravidar.
A endometriose na adolescência é um tema muito importante e frequentemente desconhecido pelos pais e principalmente pelas adolescentes. Nessa hora, é muito importante o papel dos pais, pois uma conversa sobre menstruação e sexualidade se faz necessária, e é de grande relevância para a saúde das adolescentes.
Com o início da menstruação, podem surgir as cólicas, que, apesar de considerada pela maioria das mulheres como algo normal, pode ser um forte sinal de endometriose na adolescência.
É comum as adolescentes escutarem de suas mães, amigas e até dos médicos, que ter cólica durante o período menstrual é normal. A falta de informação, somado ao fato de uma crença equivocada em que cólica menstrual é algo normal, faz com que muitas adolescentes sofram por muitos anos, determinando prejuízos escolares, sociais, físicos e psíquicos.
Estudos relatam que a endometriose na adolescência pode demorar cerca de 11 a 12 anos para ser diagnosticada.
Dados da Associação Americana de Endometriose revelam que 66% das mulheres adultas com endometriose começaram a apresentar os sintomas antes dos 20 anos. Ainda não foi descoberta a causa da doença, provavelmente multifatorial. Acredita-se hoje que uma tendência familiar contribua para seu desenvolvimento. Esta incidência familiar tem sido observada entre irmãs, irmãs gêmeas e mãe/filha.
Principais sintomas:
* Cólica menstrual;
* Cólica fora do ciclo menstrual;
* Alterações intestinais durante o período menstrual;
* Alterações urinárias durante a menstruação;
* Dor durante as relações sexuais;
* Distensão abdominal
* Ciclos irregulares, sangramento aumentado;
Como diagnosticar
A primeira consulta com um ginecologista também não deve ser adiada. Mesmo meninas que não tenham relações sexuais podem e devem ser orientadas por este especialista. No caso específico de endometriose, é o ginecologista que fará o diagnóstico e tratamento. Este profissional poderá ajudar na prevenção e tratamento de outras situações. Profissionais das várias áreas clínicas que atendam adolescentes, devem estar preparados para lembrar que a doença existe e quando suspeitada, orientar na procura do profissional mais habilitado. O ginecologista é o especialista que com conhecimento clínico específico, delicadeza e cumplicidade, estará mais apto para dialogar e orientar, estabelecendo importante vínculo neste momento de transição.
Os exames para pesquisa de endometriose na adolescência são:
– Ultrassonografia transvaginal com preparo intestinal nas pacientes que já iniciaram vida sexual;
– Ultrassonografia pélvica (virgens)
– Ressonância magnética da pelve (virgens).
As adolescentes e seus pais devem estar bem informados, pois quanto antes for realizado o diagnóstico, maiores serão as chances de se evitar complicações no futuro. Por isso é importante ressaltar que o diagnóstico precoce da endometriose na adolescência, é o caminho para garantir a qualidade de vida dessas meninas e preservar sua fertilidade, consequentemente seu futuro reprodutivo.
Planejamento do tratamento
Após receber o diagnóstico da endometriose é importante fazer o planejamento do tratamento, sendo os principais quesitos:
* Intensidade dos sintomas;
* Desejo reprodutivo;
* Localização da endometriose (estadiamento);
* Satisfação com o tratamento escolhido (como a paciente se sente ao fazer o tratamento), pois os tratamentos são de longo prazo.
Os tratamentos da endometriose na adolescência podem ser:
- Terapêutica hormonal;
- Cirurgia;
- Tratamentos complementares (acupuntura, fisioterapia pélvica, atividade física e alimentação);
- Medicamentos para a dor (analgésicos, antiinflamatórios);
- Combinação dos tratamentos
Quanto mais pessoas estiverem conscientes das características da endometriose, mais diagnóstico precoce e menor será o sofrimento das pacientes após iniciar o tratamento adequado.
Orientamos buscar sempre o aconselhamento e ajuda dos profissionais de saúde de sua confiança e especializado para fazer o seguimento clínico- ginecológico. Embora não haja cura para a endometriose, uma gama de tratamentos pode controlar os sintomas dessas pacientes, melhorar qualidade de vida e garantir futuro reprodutivo.
Dra. Giovana Fortunato é ginecologista e obstetra, professora do HUJM e especialista em endometriose e infertilidade na Eladium