Por Vanessa Moraes
Ao recebermos a notícia do médico que é preciso usar aparelhos auditivos, a primeira atitude é de rejeição. Porém, mal se imagina o quanto a existência desta tecnologia que transforma vidas.
Após a fase inicial de adaptação, é impossível não se apaixonar por todos os benefícios que eles trazem para a nossa vida: dos mais simples como ouvir a campainha em casa, o canto dos pássaros até as aos mais incríveis como participar de uma reunião no trabalho em pé de igualdade com os colegas que voltam a fazer parte do dia-a-dia.
Com o uso de aparelhos auditivos é possível vivenciar uma transformação incrível na vida das pessoas, principalmente quando se usa o dia todo e se assume-os com orgulho.
Voltar a ouvir é o benefício mais poderoso de todos. Só se entende o que a surdez causa de ruim na vida da pessoa quando o aparelho auditivo entra em ação e mostra tudo o que se perde, tudo o que se deixa passar e que não se vivencia por causa da audição ruim.
Voltarmos a ouvir o que não se ouvia mais abre algumas portas na nossa alma que nem nos lembravamos mais que existiam. Muitos relatam a primeira vez que ouviu a TV com os aparelhos, quando escutou o canto dos pássaros, quando perdeu uma competição de jiu jitsu por não ter escutado o apito do juiz… São momentos emocionantes e inesquecíveis e com isso é possível afirmar que voltar a ouvir é como colocar no lugar várias pecinhas que estão quebradas dentro das pessoas.
Comportamentos como não se interessar por situações nas quais se precise comunicar com mais de uma pessoa, encontros familiares, festas, baladas, churrascos, enfim, de situações onde há a necessidade de interações sociais são comumente encontradas nas pessoas que possuem perda auditiva e não são tratadas com o uso do aparelho auditivo.
Ao fazer uso dos aparelhos auditivos é possível “ganhar de volta a confiança dos ouvidos”, melhorando imensamente a vida social, interagindo com as pessoas, saindo de casa, ao invés de ficar paralisado pelo pânico consequente do isolamento social.
A maior parte do nosso tempo, estamos convivendo com a nossa própria família, e é com eles que notamos um benefício muito importante: o de melhorar o convívio familiar.
As pessoas reclamam tanto que a família não tem paciência, mas antes de se tornarem usuários de aparelhos auditivos, não entendem como a condição é difícil e cansativa para eles também. Essa queixa da família e do usuário são modificadas de forma muito evidente. O deficiente auditivo passa a ajudar muito mais em casa, ouve a porta e vai abrir, ouve o interfone e vai atender, quando o paciente é chamado e logo responde, mesmo a distância. Essas são atitudes que parecem bobas, mas que acrescentam muito na vida do deficiente auditivo usuário de aparelho auditivo.
Na escola, o aumento do rendimento escolar é significativo. Apelidos como “o devagar da sala”, são rapidamente substituídos pelo aluno esforçado, corajoso e vencedor. Percebe-se nitidamente o quanto os colegas passam a respeitar muito mais, pois o esforço para melhorar é muito grande e valioso.
A segurança, a autoestima elevada, a diminuição do cansaço, da irritabilidade, a vida social mais intensa, a perda do medo das pessoas também são algumas mudanças percebidas através do uso de aparelhos auditivos.
Não precisa ser muito inteligente para perceber que a perda auditiva não tratada pode nos levar à depressão – e realmente leva! O medo do futuro e tristeza por todas as coisas que achava que jamais faria por ser surdo são praticamente cessadas ao usar aparelhos auditivos. O som volta a fazer parte do dia-a-dia e é possível focar em outras coisas ao invés da angústia, do aperto no peito.
Em idosos, esse fator é importantíssimo. Até porque, para a maioria daqueles em idade muito avançada, as grandes alegrias da vida são conviver com a família e assistir TV. Não poder fazer isso tira a alegria de viver de qualquer um! E sim, já existem vários estudos que ligam a perda auditiva não tratada à depressão e também a doenças neurológicas como o Alzheimer. Pesquisas também descrevem que há aumento em 70% de quedas em idosos com perda auditiva não tratada.
Assim, nada mais valioso do que reabilitar a audição perdida. Escutar bem tem que ser prioridade em nossa vida para que ela seja realmente saudável e compartilhada.
Vanessa Moraes é fonoaudióloga e audiologista na Sonicon em Cuiabá (MT).