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Quando a endometriose atinge o intestino

por Sandra Carvalho
Publicado: Updated:

Por Dr. Osvanio Pimenta

A endometriose intestinal consiste na presença de lesões de endometriose no intestino. Estima-se que 5% a 37% das pacientes com endometriose tenham endometriose intestinal. Estudos científicos atuais relatam uma demora de até sete anos para o diagnóstico, com grande prejuízo na qualidade de vida dessas mulheres.

A maioria das mulheres com esse tipo de endometriose não tem a doença só no intestino. Cerca de 70% a 90% delas têm endometriose também em outros órgãos, como ovários, útero e tubas uterinas, além de não raramente apresentarem também lesões na bexiga urinária e nos ureteres.

Por se tratar de um tipo de endometriose, além dos sintomas mais frequentes da doença, como cólicas menstruais (dismenorreia), dor na relação sexual (dispareunia) e dificuldade em engravidar (infertilidade), outros sintomas inespecíficos são comumente encontrados, como a distensão abdominal, o aumento de gases (flatulência), a sensação de esvaziamento incompleto do intestino e a dor ao evacuar. Esses sintomas podem aparecer esporadicamente, mas há casos em que ocorrem diariamente, e costumam piorar durante a menstruação.

A evolução desse tipo de endometriose costuma ser lenta, sendo raros os casos de obstrução intestinal, presença de sangue nas fezes e alteração na sua forma. Isso se deve ao fato de a lesão de endometriose intestinal raramente atingir a parte interna do intestino, também chamada de mucosa intestinal.

O reto e o sigmóide são as duas porções do intestino mais comumente afetadas, particularmente a região mais próxima à parte posterior do útero e ao fundo da vagina, motivo que explica, em muitos casos, a dor no fundo da vagina durante a relação sexual.

Aderências pélvicas são muito frequentes nesse tipo de endometriose, podendo ser severas e comprometer toda a pelve.

O termo endometriose profunda não é sinônimo de endometriose intestinal, embora muitas vezes seja utilizado nesse sentido nos laudos de exames. Trata-se de termo utilizado no meio médico para indicar que a lesão se aprofunda mais de 5 mm na superfície peritoneal do órgão acometido, e a sua presença indica que a doença já se encontra em estágio avançado. Cerca de 30% dos casos de endometriose profunda estão no intestino, podendo ainda atingir ligamentos, útero, ovários, bexiga urinária, ureteres e nervos abdominais.

Como é feito o diagnóstico?

O diagnóstico da endometriose intestinal é essencialmente clínico. Isso quer dizer que o médico pode fazer o diagnóstico com base nos sintomas relatados e no exame físico. Exames específicos podem ser solicitados para confirmar o diagnóstico e auxiliar na terapia.

A dor ao evacuar e sua eventual irradiação para a região do reto, principalmente quando durante a menstruação, bem como a dor profunda na relação sexual, são sintomas indicativos da doença que frequentemente constituem a queixa da paciente durante a consulta com o seu médico.

A presença de espessamento ou de nódulo de endometriose intestinal pode ser identificada pelo médico durante o exame ginecológico (toque vaginal ou retal). Comumente localizam-se na parte posterior da vagina, atrás do útero, e podem levar à diminuição da mobilidade dos órgãos pélvicos, dos ovários e do útero, assim como estarem associados à existência de aderências pélvicas.

Os exames específicos para a pesquisa de endometriose são a ressonância magnética e a ultrassonografia com preparo intestinal, e é importante assegurar que sejam realizados por profissionais especializados. O preparo intestinal geralmente começa no dia anterior ao exame com o objetivo de diminuir os gases e fezes no intestino, o que se obtém com dieta laxativa e uso de laxantes.

Como é feito o tratamento da endometriose intestinal?

O tratamento da endometriose intestinal costuma ser cirúrgico e tem como objetivo remover não só as lesões intestinais, mas todos os eventuais focos de endometriose identificáveis. Em alguns casos, o uso de medicamentos hormonais (pílulas anticoncepcionais ou contraceptivos orais, anel vaginal, implantes transdérmicos, DIU medicado com levonorgestrel) além de medicações anti estrogênicas como por exemplo os análogos de GnRH e os inibidores da aromatase podem ser uma tentativa de tratamento clínico, mas os resultados não costumam ser satisfatórios.

A melhor técnica cirúrgica para o tratamento da endometriose intestinal é a cirurgia minimamente invasiva – a laparoscopia. As cirurgias costumam ser agendadas eletivamente, antecedidas de preparo intestinal com laxantes e dieta para que as fezes e gases sejam eliminados do intestino, reduzindo a chance de complicações. A abordagem cirúrgica varia de acordo com o número, as localizações, profundidades e extensões das lesões, sendo comum o emprego de grampeadores intestinais.

Dr. Osvanio Pimenta é cirurgião, especialista em endometriose e bariátrica e integra a equipe multidisciplinar do Instituto Eladium

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